Pesquisa com a comunidade escolar inspirou política de combate à violência nas escolas do DF
Ao longo de 2008, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SE/DF) desenvolveu um conjunto de medidas para reduzir a violência nas escolas. Implantou-se a Política de Promoção da Cidadania e da Cultura de Paz, com a proposta de promover “a convivência pacífica” no espaço escolar.
Para isso, destaca-se a elaboração de um estudo, pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), sobre os tipos de violência encontrados na comunidade escolar. “Nossa primeira medida foi realizar um mapeamento dos problemas de violência em Brasília. A pesquisa envolveu 10 mil alunos e 1300 professores. A partir dela desenvolvemos a política”, explica Atílio Mazzoleni, assessor especial da SE/DF, coordenador da Política de Promoção da Cidadania e da Cultura de Paz.
A responsável pelo estudo, Miriam Abramovay, pesquisadora da Ritla, afirma ser mais grave atualmente nas escolas a microviolência. “São violências que a escola reproduz, como discriminação, agressão, xingamentos e brigas.. A violência dura, como o tráfico e a entrada de armas, vem completamente de fora, foge às possibilidades da escola resolver, ou decidir sobre isso. É preciso discutir muito o que se fazer com esse tipo de violência”. (leia aqui a entrevista completa com a pesquisadora).
Miriam destaca que as políticas públicas não podem ser embasadas em achismo, mas no conhecimento da realidade. “Todas as pessoas devem ser escutadas: alunos, funcionários, professores, diretores, pais, etc. No momento de embasar conhecimentos concretos sobre a realidade não basta sentar num gabinete e pensar o que seria melhor para a escola”.
A pesquisa possibilitou que se conhecesse melhor a problemática e ofereceu subsídios para ações de redução das agressões nas instituições de ensino. Num segundo momento, foi elaborado um manual sobre como agir caso a caso, de acordo com o tipo de violência vivida. “O manual tem 106 perguntas e respostas com a preocupação de orientar as ações em caso de pichação, bullying, depredação, furto, etc”, conta Mazzoleni.
Além do manual, a secretaria criou o curso de formação para o professorado “Juventude, diversidade e convivência escolar”. Nele, são trabalhadas as temáticas de gênero, sexualidade e bullying, dente outras.
Para envolver os diferentes atores nas políticas de combate à violência, a SE/DF fez parcerias com o batalhão escolar, comandado pela Polícia Militar, a Secretaria de Segurança e a de Esporte, além do Ministério Público. Também está sendo estimulada a criação dos conselhos de segurança escolar, compostos por docentes, funcionários, direção, Polícia Militar e alunos. “Vemos redução significativa da violência nas escolas onde o conselho é atuante”, destaca Mazzoleni.
Além disso, verificou-se que dentre as 620 escolas do DF, existiam apenas 26 grêmios. “Precisávamos trabalhar com a idéia de protagonismo juvenil. Reunimos as lideranças para saber que tipo de grêmio existe, como elas gostariam que fosse e de que forma poderíamos fortalecê-los. Estamos tendo crescimento muito grande e devemos chegar a 100”.
Repressão
A secretaria, no entanto, também adota políticas de repressão, conduzidas pelo batalhão escolar. “Quando há denúncia de que existem drogas, por exemplo, no transporte escolar, informamos o batalhão e faz-se uma blitz escolar. O ônibus é abordado e a criança é revistada. Isso não causa nenhum constrangimento, é normal, os pais entendem por ser a segurança dos alunos e algumas vezes encontramos armas e drogas”, afirma Mazzoleni.
Ele acrescenta que está em processo de licitação a compra de câmeras, para a instalação nas escolas. “A câmera inibe quem passa drogas e o uso da força”, explica Mazzoleni. Ele não soube afirmar o custo de compra e instalação dos equipamentos.
Já Miriam afirma que, pelas experiências internacionais, “esse tipo de medida dá pouco resultado. É preciso pensar em medidas preventivas, não na instalação de câmeras. Cria-se um sentimento de espionagem nos jovens, o que para eles é muito degradante”.
Conheça a proposta da SE/DF aqui.
Veja aqui os principais resultados do mapeamento.
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