Desafios do ensino de artes foi tema de debate do Observatório
O objetivodo evento foidiscutir o papel dos agentes desses três campos – a escola, as ONGs e as instituições culturais – na arte-educação. Na mesa de discussão estavam presentes representantes do ensino formal, implementado nas redes de ensino, e não-formal, desenvolvido em outros espaços de convívio social.
Da escola pública, compareceram Roseli Ventrella (Escola de Formação dos Professores do Estado de São Paulo), Carlos Eduardo Fernandes Jr. (professor de artes da Escola Municipal de Ensino Fundamental – EMEF Vereador Antônio Sampaio) e a pesquisadora Rosa Iavelberg, pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP). Pelo ensino não-formal falaram o artista Antônio Nóbrega (Instituto Brincante), Stela Barbieri (curadora do Educativo da Fundação Bienal de São Paulo) e o arte-educador e ator Adilson Faria (conhecido como Dil).
Os organizadores do debate acreditam que a discussão sobre a arte ganha importância com o aumento das experiências de educação integral no Brasil, afinal, o ensino e a prática de artes (visual, dança, música) podem ser reforçadas e ampliadas com o aumento da carga horária.
Qual o papel da arte?
A pergunta marcou a palestra da professora Rosa Iavelberg. Segundo ela, que pesquisa o ensino de arte, existe uma distância entre os avanços teóricos em arte e o que se ensina nas escolas, tanto públicas quanto privadas.
Rosa apontou para a necessidade de uma reformulação curricular da matéria, como já aconteceu antes. Ela explicou que a partir dos anos de 1980 houve uma revolução no ensino da arte, que passou a dialogar mais intensamente com a cultura contemporânea e o local onde se dá o ensino.
Para se ensinar arte na escola, diz, é preciso conhecer teorias da aprendizagem da arte, ter prática de criação de arte, fazer ponte dos artistas com escola e dar destino à produção dos alunos.
“Existe hoje em dia consenso de que arte e esporte podem ser redentores de uma sociedade que passa por problemas”, disse, em sua exposição, o professor Carlos Eduardo.
O arte-educador Dil lembrou como a arte na sociedade é vista para ser algo ensinado e praticado por crianças, adultos, pessoas em situações de não produção econômica – como os adolescentes vinculados à Fundação Casa, idosos, pessoas com deficiência -, mas nunca voltado para as pessoas em atividades produtivas. Por que esse“lugar” do ensino da arte? Isso é uma visão da arte como um instrumento redentor – que é uma faceta, mas não a única segundo os debatedores.
Escola de tempo integral
A crítica pode se aplicar também, de acordo com Carlos Eduardo, aos atuais projetos em curso de escola de tempo integral. Segundo o professor, não se deve apenas reproduzir essa estrutura deficitária, dobrando o tempo na escola. “Além da educação integral, qual o tempo da arte na educação?”, questionou. Leia mais aqui sobre as limitações apontadas por Carlos Eduardo para o ensino de artes na escola.
A pesquisadora Rosa afirmou que o tempo integral pode ser um tempo perdido se não houver uma reestruturação da escola. “É bom que tenha oito horas, se essas horas todas forem promissoras. Para isso temos que investir também nas mudanças de gestão que barram bastante [as políticas] e a formação de professores, que faz muita diferença”.
Roseli Ventrella, que estava representando a Secretaria Estadual de Educação, lembrou que a rede estadual voltou a oferecer aula de artes para o 3º ano do ensino médio, o que considerou uma conquista. Ela explicou que existe uma proposta de currículo sendo experimentada desde 2008 e que será revista para o ano que vem.
Ensino não-formal de arte
O arte-educador Dil lembrou que a arte é um direito da criança, e de que devemos enxergá-la como um sujeito de cultura. Ele deu exemplo do funk, que é estigmatizado, mas é um tipo de cultura ao qual as crianças e adolescentes de hoje têm acesso: “a molecada quer ouvir funk, quer jogar computador… é cultura, é o que nós temos. Com o funk, aliás, nunca vi tanto moleque compondo letra, escrevendo, rimando palavras”, comentou.
Outra representante da educação não-formal de arte foi Stela Barbieri, curadora do Educativo da Fundação Bienal. Esse setor da Bienal tem se dedicado a reunir professores (tanto de escola pública quanto privada) para discutir arte contemporânea e orientar sobre as edições da Bienal (http://www.bienal.org.br/FBSP/pt/29Bienal/Educativo/Paginas/default.aspx). Segundo ela, em quatro anos de trabalho o setor Educativo já atendeu 50 mil professores, incluindo 15 CEU (Centros Educacionais Unificados) da prefeitura de São Paulo.
Ensinar o formato da arte para os alunos
O artista Antonio Nóbrega dedicou sua fala a explicar como, em sua trajetória, percebeu a complexidade da cultura popular – que, no entanto, é feita de forma natural. Ele percebeu na cultura popular a repetição de padrões estéticos, como os casos das quadras nas músicas, versos e poemas. Ele também toca o Teatro Escola Brincante desde 1992, um “local de valorização e promoção da cultura brasileira”.
“Sempre tive a cultura popular como subsidio para meu trabalho como artista”, conta, “fui examinando e vi que havia padrões que poderiam ser utilizados para a educação do homem. O que essa cultura tem que transcende a si mesma e o que pode ajudar no próprio desenvolvimento da consciência humana”.
Antonio Nobrega explicou que é possível ensinar o formato da arte, que é o vaso onde “a pessoa vai inserir a sua realidade”. Além de demonstrar que é possível ensinar arte, o artista defende o tipo de arte que é feito baseado na realidade de vida da pessoa, do aluno.
Em breve, serão divulgados os vídeos do seminário no site do Observatório.
Depoimentos sobre o debate Jefferson, arte-educador do Centro Social Marista Marlene, professora de artes da E.E. Prof. Moacyr Campos |
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