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Debate destaca a importância de pensar a diversidade nas políticas de educação

Enviado por on 15 de agosto de 2013 – 18:50nenhum comentário

“O tema da diversidade é utilizado para diluir especificidades e conflitos, ainda não tendo impactado as macropolíticas educacionais relacionadas ao currículo, material didático, formação inicial e continuada, financiamento e gestão democrática, por exemplo”, afirmou Sandra Unbehaum, uma das expositoras da conferência livre “Educação e diversidade: justiça social, inclusão e direitos humanos”, preparatória para a  2ª Conferência Nacional de Educação (Conae).

A fala da pesquisadora ocorreu no último sábado (10/08), em São Paulo, e foi uma das apresentações feitas por representantes de movimentos sociais e pesquisadores com o objetivo de evidenciar quais seriam os principais desafios para a construção de uma educação pública, de qualidade e que inclua os grupos excluídos política e socialmente.

As exposições integraram o evento que foi organizado pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania em parceria com as Secretarias Municipais de Educação, Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida, Políticas para as Mulheres e Promoção da Igualdade Racial. Além das apresentações (veja texto abaixo), foram realizadas discussões em grupo, pronunciamento institucional das secretarias e uma intervenção artística ao final das atividades.

Ao analisar o documento de referência da Conae, a pesquisadora da Fundação Carlos Chagas ressaltou que, mesmo articulando as questões de gênero, etnia, diversidade sexual, deficiência e geracional, o documento traz uma perspectiva fragmentada das demandas destes movimentos.

“No início do eixo II, afirma-se que ele se constitui como ‘central da educação e objeto da política educacional’, mas se realmente isso fosse verdade, a plateia da conferência não estaria composta só pelos grupos que estão aqui representados”, observou. Para Sandra, a temática da educação e diversidade está ausente na maior parte dos debates educacionais e há a necessidade de se “exigir que ela seja vista como estruturante para a educação e não como se fosse uma micropolítica”.

De acordo com Sandra, é necessário reconhecer os limites das políticas universais para a área da educação: “a situação de mulheres e homens negros revelam que, ainda que a educação tenha melhorado de uma forma geral nos últimos anos, manteve-se estável a desigualdade entre brancos e negros no Brasil”.

 

Diversidade e gênero

O integrante da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) e do Fórum Nacional de Educação, Toni Reis, defendeu que deve haver financiamento suficiente para que sejam colocadas em prática as propostas relacionadas às minorias e reforçou a necessidade de combate à homofobia no ambiente escolar.

“Segundo uma pesquisa da UNESCO, 40% dos meninos não gostariam de estudar com uma pessoa LGBT, 35% dos pais não gostariam que os filhos estudassem com uma criança LGBT e 60% dos professores não sabem lidar com a situação de discriminação”, relatou.

Toni explicou que este tipo de preconceito na escola “desumaniza e promove a insegurança das crianças, provoca isolamento e vulnerabilidade, compromete a inclusão e a qualidade de ensino, dificulta a aprendizagem e a inserção no mercado de trabalho, além de poder levar até mesmo ao suicídio”. Como alternativas, ele aponta a elaboração de materiais didáticos que dialoguem com a diversidade, o aumento de pesquisas sobre a temática no ambiente escolar e a capacitação inicial e continuada de professores com o envolvimento das universidades.

 

Relações étnicas e raciais

“A cidade de São Paulo possui quatro milhões de pessoas negras que, em sua maioria, ainda possuem condições ruins de vida. É impossível compreender a própria história do Brasil se não retomarmos os 400 anos de escravização no país”, afirma a Secretária-adjunta de Promoção da Igualdade Racial da capital paulista (SEPIR), Matilde Ribeiro, ao defender o reconhecimento do racismo como primeiro passo para a sua superação no ambiente escolar.

Segundo Matilde, a SEPIR já realizou oito conferências com o intuito de compreender e estabelecer propostas para o enfrentamento deste problema na cidade. Em sua exposição, a secretária defendeu mudanças estruturais para que se eliminem as desigualdades raciais na educação como, por exemplo: a realização de estudos e pesquisas sobre a questão racial na educação paulistana, a promoção de ações intersetoriais e conjuntas com diferentes áreas da gestão municipal e a real implementação da Lei Federal 10.639/03 – que determina o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas redes de ensino.

Também na mesa, a integrante do Conselho Nacional de Mulheres Indígenas, Chirley Pancara, enumerou algumas das prioridades para a melhoria da educação indígena no Brasil. “A primeira coisa é deixarmos de ter uma visão estereotipada dos povos indígenas, além de melhorarmos, por exemplo, os livros didáticos que têm sido utilizados. Hoje, estes materiais são apenas mercadológicos e não dialogam com o nosso povo”, afirma Chirley ao propor a utilização de livros multidisciplinares, além de destacar a necessidade a criação de um território etnoeducacional que inclua os índios guaranis de São Paulo.

 

Educação inclusiva

A discussão sobre o direito à educação para pessoas com deficiência e para a população imigrante, foram realizadas as apresentações do coordenador do Programa Plural, do Instituto Rodrigues Mendes, Luiz Henrique de Paula Conceição, e da doutoranda em direitos humanos pela Universidade de São Paulo (USP), Tatiana Waldman, respectivamente.

Para Luiz Henrique, um dos pontos a se destacar é necessidade de priorizar a inclusão dos estudantes com deficiência no sistema regular de ensino. “No convívio com os outros alunos, todos se beneficiam em seus processos de aprendizagem e, para isso, é necessário que estejam acessíveis os mesmos conteúdos a todos e que a participação possa ocorrer em condições de igualdade”, afirmou o coordenador.

Ao falar sobre as diferentes demandas discutidas na conferência, Luiz Henrique destacou que se deve trabalhar para além das necessidades de cada segmento: “talvez esse seja o nosso maior desafio; levar em consideração as especificidades de cada grupo e pensar em uma educação para todos”.

Já a doutoranda Tatiana Waldman apontou duas grandes barreiras para a conquista do direito à educação de imigrantes: a ausência de preparo das escolas sem o conhecimento de como se trabalhar com esta população e a dificuldade de aprendizado e de comunicação dos alunos por causa da diferença de idioma.

“Para solucionarmos o preconceito e as dificuldades dos imigrantes no acesso à educação, é possível realizar ações como o trabalho do tema da diversidade em sala de aula, além de pensar em novas medidas para as disciplinas e, até mesmo, no fornecimento do português como medida estrangeira para estes estudantes”, exemplificou a pesquisadora.

As conferências livres da cidade de São Paulo são organizadas por órgãos do Estado, entidades e representantes da sociedade civil e ocorreram entre os dias 3 e 10 de agosto como preparação para a etapa municipal da Conae que será realizada nos próximos dias 16 e 17 de agosto.

 

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